sábado, 29 de maio de 2010

Para todos

Me lembro de olhar pras nuvens com mais ternura, pra lua também, com mais vontade de obter boas sensações. Me lembro de amar como uma criança, de cair e levantar também. Sinto, no mais ínfimo de meu ser, a hora de partir se aproximando. È só uma bela viagem ao desconhecido, mais uma delas. Me lembro que esquecerei de tudo em breve e que lembrar não passará de manchas de tinta na carta não mandada. Sinto que o mundo me devora e que o existir é um capítulo descortinado pelo tempo. É isso, o tempo é o maior remédio e o mais forte dos venenos, o mais poderoso perfume...um chá de erva calmante que dura pra sempre, uma dor que dilacera até que as luzes se apaguem em câmera lenta. Navegar é necessário, senão navegasse não teria sentido construir o barco. Me lembro de crianças batendo palmas e ouvindo uma flauta oxidada. Me lembro de suspiros e sussurros que eram de amor, de uma amor que parecia de verdade, o único que tive. Gostaria de dar-lhe um beijo e um abraço, os mais sinceros e positivos que possam haver. Não há mais tempo, mas o tempo sempre haverá de existir, é como o vento que muda de direção e para de nos acariciar a pele, os cabelos e as mãos. Fiz meu home work e agora posso dormir em paz. É a única coisa que espero ter ao viajar. A gente tem esperanças de que o clima e as boas marés nos tragam de volta. Me lembro de ter passado angústias e alegrias maiores que sinto agora e penso que algum dia, um dia qualquer, talvez sinta algo maior. Me lembro da música tocando, dos amigos sorrindo, de ter fugido e me escondido, de ter sido encontrado, de ser descartado, de estar perdido e de estar total e inabalavelmente seguro. Me lembro de duvidar e acreditar piamente em Deus, de Deus com maiúscula ou de deus com flores humanas. Me lembro de ter merecido e de ter ignorado, não me lembro de perdoar e entender profundas coisas. Esse capítulo esteve por ser escrito. Me lembro de escutar promessas e de fazê-las. Me lembro de não dar muita atenção à mudança da acentuação na língua portuguesa. Me lembro de ter estudado muito e de não ter estudado o bastante, de ter pedido ajuda um milhão de vezes. De ter valorizado sobre humanamente quem me ajudou, de ser e não ser valorizado quando ajudei...ou quando tentei ajudar. Agora não tenho mais medo, me sinto apenas um ‘estar no mundo’ e, por isso e por outras, não quero que desçam lágrimas, só orvalhos em folhas noturnas. Me lembro de ser embalado no berço, de ser amado como filho, de estar doente e de ser curado. Me lembro do suor e do sereno, do cheiro e do som, da música e do ruído, do passado e do presente. Espero não ter esquecido de nada.