terça-feira, 29 de junho de 2010

Como vem o poema

Tem dia que o poema não vem de jeito nenhum
Tem dia que ele vem alado, acompanhado de frases crédulas e versos amenos
Outras vezes vem áspero e cortante, voraz e impiedoso
Pode ser que venha calmo e sereno, arrastando asas de versos monossilábicos
Talvez venha seco, engolido à seco, rasgando traquéia abaixo
Doce ou amargo, depende do humor dos poetas
Ao pensar nisso acabamos por ver que ele é tão bonito como o motivo que o fez brotar
Uma flor, uma dor, uma musa, uma cor, uma blusa de frio esquecida pela pessoa amada
Um anel deixado pelo encontro rápido, uma flor que murchou dentro de uma página
Tem dia que o poema teima em esperar, nos deixa parado, perplexo, ansioso
Tem dias que ele faz totalmente o avesso, agita, desespera, expulsa, acalma
Ah, mas a culpa é do poeta, de seu dia, sua noite e de sua musa
Principalmente da musa, sem ela não haveria poema
Quando ela nos conta que chorou o poema nada no pranto e se veste de colo
Quando ela dorme serena e seminua em nossa cama o poema transborda em sorriso
Se ela nos diz aquele ‘não’ caótico o poema é tão forte quanto os suspiros impressos
Se ela nos joga o sapato em dia de tensão psicoquímica o poema se enche de interrogações
Quando ela diz carinhosamente que ama o poema é ao vivo
E quando o poeta não tem motivos tem poucas opções
Fingir que é um sofredor
Fingir que é um fingidor
Fingir que ama loucamente
Ou escrever uma dessas bulas sobre como deve ser o poema