Barco
Agora que a morte se anuncia
Me sinto como um barco ativo
Aos francos fluídos deslizando
Somando a noite e o dia
Se pra ser amigo é preciso
Cortar meus improvisos
Estar pronto quando queres
Prefiro então que esperes
Navego entre mares
De almas alvas e plenas
Da história tão pequena
Da memória muitos ares
Da hora de partir em paz
Peço o peso do artifício
Rezo pra bem mais benefícios
Conto contigo e te esqueço
Se não mereces o amor
Não venha me mostrar suicídio
Sou do mar, não do presídio
Gosto de roupas vermelhas
E faço assim porque espero
Ganhar teu sorriso não quero
Prefiro mendigar minhas lágrimas
Prefiro andar entre as gentes
Se não compete ao poeta
Se colocar competente
Esmago o paço aos tapas
Viajo sem seguir o mapa
Me perco por entre pântanos
Espantados de Alegoria
Não te desejo alegria
E muito menos tristeza
Mas se roubas da beleza
O centro do céu estrelado
Prefiro a voz do silêncio
Do que a surdez que me abriga
Prefiro a voz do silêncio
Menos amada, tão pouco amiga
A voz e o naufrágio