domingo, 31 de janeiro de 2010

aos verdadeiros amores

Tratar bem é prioritário. Não é só dar colo ou ombro, é respeitar o amigo diante os outros. É saber que limites existem além da necessidade do egoísmo de se sentir bem. É saber que se o amor é latente ele pode ser rechaçado, mas não ignorado, maltratado ou vilipendiado. O amor é algo inevitável porque construímos isso no olhar, na conversa, no abraço, no sentido mais amplo da palavra ‘sentimento’. A agressividade destrói o sentido do amor amigo, do amor amante e do amor irmão, do de pai, mãe e filhos. O absurdo se propaga nos princípios mais ínfimos. É onde o amor se faz dolorido, é onde o negar-se se torna defesa não estratégica, mas puramente defesa de sobrevivência. Amor e doar e não socar, como as mãos ou palavras, gestos, ações. O que os outros vão achar da gente não é prioridade, apesar de ser necessário causar boa impressão. É impossível agüentar o ignorar do sentimento de quem realmente ama, de quaisquer formas. Se não há respeito não há amor. Se não há hombridade não há amizade, se não há desculpa também não há perdão. Quando amamos, além da paixão, além do ombro amigo, nascemos como adultos fortes, não inertes, presentes em todo sentido, no significado mais profundo da palavra ‘amor’.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Hoje

Pasmo, olho os olhos em cores em minha frente
Verso da palavra, palavra em verso dilacerado
Forte abraço quente, doce, amargo, agridoce
As costas contam capítulos interminados
Param diante de olhos que querem se encharcar
Mas não conseguem nem no tempo úmido depois da chuva
Sangue rosa, vermelho e preto, sangue límpido de doador
Se à dor me dôo, dou de mim o que há de pleno
Serenamente sereno, que no telhado há de ficar até o amanhecer
Arranha-me, arrasta-me, arranha-arrasta-me-te
Aos pés do vencedor
E de quem a dor vence ou vence a própria dor
Venha, veja e vença, sentença rasgada na folha de papel
Na folha da flor que não veio
Na veia da flor arrancada
No cheiro da dor inodora
No adorar de almas distantes
Venha, veja e vença
O que não há de perseguir o medo
Aquilo que não tem que perdurar pelos anos
A hora que não tem que passar pelos dias
O botão que não ousa passar pela casa
A camisa que não se dá ao vestir
O silêncio que não se dá por mudo
O Muro que não se dá por fronteiriço
A fronteira que não se dá pela elasticidade
O amor que não se extingue pela prática
A paixão que insiste em beirar loucura
O remédio que, mesmo torpe, acalma como incenso apagado pelo vento.
Beijo

A flor ofertada oferta-me a me dar
Um grito tamanho em silêncio patológico
A lógica da paixão e o vermelho nos olhos
A cor da flor é rosa, o nome da flor é beijo

E o beija flor navega, pelo ar descendente
Incendeia a sala e o coração vazio
Escorre pelas veias vermelhas
São várias cores de rosa estampadas

Arruinados pelo tempo que não resta, nos restamos
A colecionar olhares sem fronteiras
Que entranham estranhamente a mente alcoolizada
Arranha as paredes coloridas de beijos não dados

O meu coração é raio, ou para-raio em português antigo
Chafurdando pela lama escura de um fundo iluminado
A cor, a ação, o mal solto em nossas mentes cansadas
A ação, a falta dela nos nossos corações carentemente certeiros

Certo como tiro que já cheia à dor, dor, de certo, certa
A solidão acompanhada de bolhas flutuantes no copo
O coração vazio de sementes que florificariam, acariciando
Forte como a neve que encobre os sentimentos solitários

O casamento do encanto desencantado e do desencanto sob a luz
Luz eterna que se arrasta pelas pernas, braços e olhares
A chuva vem misturar-se às palavras de sim e de não
O talvez espreita um olhar na esquina de todas as horas

Te espero como desespero, te amo como Platão
Te olho como Baco, te perco como Afrodite, te ouço pelo ‘não’
Mas ouso não ouvir nada, obliterar, sangrar pelos dentes, olhos e pernas
Sentir o gosto do suco hemolítico que invade meu paladar

Paro, olho, sigo...não chorava, hoje não, não sei se saberia
Mas o ombro é amigo, os olhos, as mãos, o abraço fraterno que confunde o peito
Olhos nos seios e a mão vazia, vaga pelo vento sem o corpo presente
Que seja assim enquanto o poema houver de querer mandar nas palavras

E que essas palavras sejam suficientemente belas pra obturar a alma
Fugindo em mudos suspiros que me vem em fotos cegas de paixão inexata
Os cegos não vêem, mas vem com seus olhos odoríferos
Mas forte que a flor que chama beijo, mas forte que o beijo não dado.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Onde andas
Por onde falas
Por que me calas, por que me olhas

Por onde ando, por onde escolho
Qual espaço, qual peso
Espero...calado
Espero ao lado de quem me lembra

Que horas te lembro
O tempo não tenho
A féria se escassa
O embaraço me embaraça

um beijo estranho
um amor tamanho
que todos vejam
que ninguém decore

o amor demora
que o amor demore
ande
devagar entre os becos

amanheça
teça na teia o formal
que o mal se esqueça
tenho em ti o amor mortal

que a morte me lembre
longe, longe me recorde
que o amor deserta
e espera leve

leve como a brisa.
Que o amor me leve.
Que o amor me espere
Nada que se mova no universo me move
Quando se une um verso a outro me perco
De perdidas letras espalhadas na mesa
Me peço e despeço milhares de vezes, atonitamente
Algo me mata lentamente
Um grito que força em sair e que nada ganha
Nada significa além de uma triste sensação

Apago lentamente o verso que teima em se regenerar
Nele tenho meus dias, horas, segundos semimortos
Nas linhas do tempo se escrevem linhas em círculos atormentados e finos
Algo me mata lentamente
No barulho interminável do relógio os versos se esvaem

E depois me levanto, o espanto de levantar me vem
Ninguém por perto, deserto erro-acerto em mim, perene
Tento me evitar, mas meu eu vem me buscar em força tamanha
Que em mim estranha, estranho

Não peço apreço, morto eu pediria
Mas ando em quartos, terços, duos
De minha estação não queres nada
De minha estação: água

Me perco e me acho, me tenho e me perco
Mas, que tamanho tinha o máximo enjaulado¿
Ando, mando, obedeço. Antes de tudo o nada de mim...nós mesmos

E por onde anda, tenho fé que tenhas
Fé intensa nas passadas de andares e passos
Me embaraço pelo que ouço, me acho pelo que escuto
Amor absoluto, nada mais

Morrer em paz seria no poema
A mão pequena tece o que sobra
Te tenho, te esqueço
Amor maior não mereço
Amor pior eu esqueço
Soneto

Som...ethos
No caminho da realidade todas as mentiras se dissolvem
Todos os caminhos do planeta se encontram
Um coração dilacerado e um olho aceso
Como nas orações de Ghandarva
Como no navegar lento e manso do barco
Num fim de tarde no velho Chico
Não quero das dores os segredos
Nem o medo que me afasta do futuro
Quero das dores o poema
E do medo a segurança de que não tê-lo é temeroso
Andando pelas praias límpidas onde deixei meu sound of reagge
Caminhando pelas chapadas floridas de argiréia nervosa
Um pouco de arnica no fim da romaria
Um pouco de carinho heart inside of peregrino
A morte que sonda passa, respira o hálito rasteiro da vida flowered
Um pouco de sangue nas veias
Sei que sou rapaz esforçado
Nada calado, nada quieto com lágrimas prontas
No encontro das águas dos nossos olhos
No não encontrar do óleo e da água
Como um grande edifício com mensagens de quimera e belerofonte
A máquina mercante pega a grande barca do inferno
Com todos os enfermos fora da enfermaria
Com todos os erros fora da ortografia
Com toda a semiótica do semicego que ouve muito bem
E nada entre as forças profundas
E dança entre as tristezas e alegrias das interpretações
Das ações entre os que navegam na noite escura
Estarei entre vozes atentas pra gritar a qualquer momento:
“me liberte, simplesmente me liberte...totalmente@”
E da mente total quero sombra e vento fresco
As horas não se passaram, não se passarão... entre nós
Nos nós bem ou mal dados do destino
Até chegar, tirar os sapatos marcados da poeira do caminho
Trago no peito o cheiro do mundo.