sábado, 30 de janeiro de 2010

Beijo

A flor ofertada oferta-me a me dar
Um grito tamanho em silêncio patológico
A lógica da paixão e o vermelho nos olhos
A cor da flor é rosa, o nome da flor é beijo

E o beija flor navega, pelo ar descendente
Incendeia a sala e o coração vazio
Escorre pelas veias vermelhas
São várias cores de rosa estampadas

Arruinados pelo tempo que não resta, nos restamos
A colecionar olhares sem fronteiras
Que entranham estranhamente a mente alcoolizada
Arranha as paredes coloridas de beijos não dados

O meu coração é raio, ou para-raio em português antigo
Chafurdando pela lama escura de um fundo iluminado
A cor, a ação, o mal solto em nossas mentes cansadas
A ação, a falta dela nos nossos corações carentemente certeiros

Certo como tiro que já cheia à dor, dor, de certo, certa
A solidão acompanhada de bolhas flutuantes no copo
O coração vazio de sementes que florificariam, acariciando
Forte como a neve que encobre os sentimentos solitários

O casamento do encanto desencantado e do desencanto sob a luz
Luz eterna que se arrasta pelas pernas, braços e olhares
A chuva vem misturar-se às palavras de sim e de não
O talvez espreita um olhar na esquina de todas as horas

Te espero como desespero, te amo como Platão
Te olho como Baco, te perco como Afrodite, te ouço pelo ‘não’
Mas ouso não ouvir nada, obliterar, sangrar pelos dentes, olhos e pernas
Sentir o gosto do suco hemolítico que invade meu paladar

Paro, olho, sigo...não chorava, hoje não, não sei se saberia
Mas o ombro é amigo, os olhos, as mãos, o abraço fraterno que confunde o peito
Olhos nos seios e a mão vazia, vaga pelo vento sem o corpo presente
Que seja assim enquanto o poema houver de querer mandar nas palavras

E que essas palavras sejam suficientemente belas pra obturar a alma
Fugindo em mudos suspiros que me vem em fotos cegas de paixão inexata
Os cegos não vêem, mas vem com seus olhos odoríferos
Mas forte que a flor que chama beijo, mas forte que o beijo não dado.

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