sexta-feira, 8 de abril de 2011

Águas que brilham

Oh, minha cidade

De caóticos cantos urbanos

Quando trafego por entre a tua noite

Sinto teu calor ululante

Tua fome de teus prédios abandonados

Escuto, mudo por detrás das igrejas

Teus ratos boêmios que cheiram sangue

Teus históricos e abjetos silêncios

Mora em mim o que moro em ti

Minha cidade resguardo

Minha cidade fantasma

Que me dá o gosto temporal nos ouvidos

Me nega o semblante abastado de suas rezes

E me grita pausadamente suas rezas

Oh, minha Uberaba sem nome

Teu nome é minha assinatura

Tua chuva densa e teu sol rarefeito

Teu mercado antigo

Nossas Santas Teresinhas no pescoço da colina

Tuas folias de reis vivos e mortos

Teus janeiros atrofiados

De veias que sangram meu sobrenome

De largos que ostentas sem estrelas

Oh, cidade nascente

Deságua em mim lágrimas secas

Anárquicas, impróprias, cadentes

Procuro em ti, cidade poente

A barra do dia que cobre a poeira

Teu jeito sereno de maltratar os forasteiros

Teu jeito ímpar de trazer despátrios

Tua fome horrenda de palavras orlândicas

Tua sede de esquinas normativas

Ruas e ruelas, párocos e pálpebras cegas

Minha megalópole de jamais

Meu Zebu caminhante

Me deito a teu mar

Sob a luz de céu profundo

Tens em mim palavras imundas

Tenho em ti profano olhar

De longe, quando em pátrias outras

Quero teu colo mais uma vez

Lembrar sereno como tuas ruas de pedras

Que saio de ti para longe

Não foges de mim nem de perto.

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