terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Das águas

Todos já tiraram suas roupas do armário
As palavras do dicionário
Coração sangrando e pálpebras semifechadas
A madrugada se anuncia no silêncio da rua

As almas todas nuas num alvorecer de mentiras
Num delírio estranho e comum de vaidades terrenas
A mão que escreve o poema pede licença
Rouba a presença, mata a ausência terrível de paixão

Ininterruptas vontades que explodem sem permissão
Indeléveis coragens se espalham pelos cantos do quarto
No imenso retrato de coleções de sorrisos abandonadas
A noite açoita o dia e traz impávida a vida das plantas

Planto o que não há de ficar calado apenas
Pranto que não vem de forma inusitada
Dores de amores perdidos e confusões de palavras achadas
É assim que o plebeu encontra a amada vestida de iluminada lua

O poema não conta os pontos onde a viola para de pontear
O som do embate, o grito do indiscutível, o medo do corajoso
Os nervos do corpo à flor da pele, a pele necrosada da falta do toque
Num imenso mundo, profundo oceanos de vozes inertes
Inerente a vida se apresenta a arte de caminhar

O sol e a lua travam uma peleja sem pares
Não paridades de um amor que nunca se encontra, não se encontrará
Mas se encontrara talvez num passado onde não havia vida humana
Sem perdão nem culpa, sem amor nem lágrimas

A luta interna declara guerra às paixões de latão
E se enche de ar ao esperar o amor de ouro
Onde a procura voa tranqüila como fênix que nasce
Meu amigo, nem Freud ousaria pensar naqueles dias

Perco o caminho de casa, procuro o abismo eterno
Amarrado em letras com pedras sinalizando o findo orgulho
Num mergulho sereno onde nada a solidão escolhida
Onde se debate incansável a solidão acompanhada

Acho o caminho da vida em braços outros
Decido descer entre o lodo das pedras das falésias
Me escorrego e a ferida vem à tona, selvagem, bela e indolor
Traio de vez a dor que me vem embalada na última palavra

3 comentários:

  1. Continua o mesmo poeta de antes, escreva mais por favor, nunca pare...

    Raquel

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  2. é tão difícil deixar o ptgs correto, que o mais correto é um erro no artigo.

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