quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Ontem

E agora o que me resta
É restar-me a mim mesmo
No calor que outrora era
Na era de um começo novo

Tudo se basta eterno enquanto dure
Tudo se faz feliz nas alegrias
Por isso, tudo é preciso
É preciso fazer dos espinhos flores

O erro? Não nego, espero que a natureza se cumpra
Sentimental e cheia de razão de ser, abençoada
Comprando nas lojas os retratos das almas perdidas
Encontrando na falta do relógio a fuga perfeita

Não, não há o que queixar, não há olhos para lágrimas
Há olhos para a relva, para o pôr do sol, para o rio que passa
Tudo se enerva lentamente como se acalma
As feras e os anjos andam nesse mundo de mãos dadas

Atadas mãos que escrevem a última carta de amor
Seladas pelo destino cruel ou pela liberdade de seguir
Trancafiados estamos, dentro de um nó em nós mesmos
Seremos nossos próprios momentos de dor e alegria

Mesmo que nos tirem o dia, mesmo que nos tomem a noite
Mesmo que nos venha a ferida e o açoite, mesmo que não venha o afago
Pagando promessas não feitas e fazendo por outro caminho o fardo
Farto de andar na direção errada onde tu encontrarás o certo

No deserto de todas as vontades, no mar de todos os desejos
Nos dias de briga, nos dias de amor, são eles os mesmos?
Mas agora resta solidão em silêncio mais que profundo
Um mundo inabitado onde flores de cor púrpura se espalham

Tu eras o que eu tinha de completo, tu és a imperfeição que amei
Eu seria o que estava de errado, eu sou o que não sei
Eles dirão o que a memória esqueceu nas folhas brancas do tempo
Nós faremos que as folhas sejam preenchidas de cores e odores

Depois do nada a vida, aquela que queremos sem saber os porques da busca
Agora tens de mim o que há de mais correto, a falta eterna
Agora tenho de ti o abandono na hora certa
Tenhamos de nós o que há de ser verdadeiro em outras linhas, braços e abraços

Nenhum comentário:

Postar um comentário